Gastronomia de Madrid – Parte 4

Nas três primeiras partes desta série de posts sobre a Gastronomia de Madrid comentei um pouco sobre alguns de seus pratos mais tradicionais, além dos costumes alimentares do povo espanhol. O post de hoje está dedicado aos doces e sobremesas típicas que podemos encontrar na capital espanhola. Nos menus diários servidos na grande maioria dos restaurantes, que incluem dois pratos, bebida e sobremesa, por um preço que varia entre 10 e 20 euros, é fácil encontrar de sobremesa pudim, arroz com leite, sorvetes (helados), yogurt, tiramissu, frutas como morango, servido com chantilly (fresas con nata, no idioma espanhol), abacaxi (piña) e melão (melón). Também é muito comum as Natillas, uma sobremesa tradicional da culinária espanhola, feito à base de leite, gema de ovo, baunilha, açúcar e canela, além de laranja ou limão. Para evitar que a receita fique muito líquida, se coloca um pouco de maizena para dar consistência, sendo comum também uma bolacha encima.

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Natillas.

 

A origem das Natillas é incerta, mas muitos atribuem sua elaboração aos conventos. A denominada Crema Catalana é uma variedade das Natillas, na qual se queima a superfície superior açucarada. Esta sobremesa na realidade faz parte da gastronomia de muitos outros países como França, Portugal, Itália, Reino Unido, etc. Uma sobremesa habitual na Semana Santa são as chamadas Torrijas, uma espécie de rabanada frita de pão e reboçada com ovo, açúcar, canela ou mel. Sua origem pertence às classes humildes, e desde o século XIV era consumida como uma forma de aproveitar o pão que começava a ficar duro. Muitos dos doces mais populares da cidade se consomem nas festas religiosas, caso das Rosquillas elaboradas durante as celebrações em homenagem ao santo padroeiro de Madrid, San Isidro, realizadas no mês de maio. Parece que sua receita foi criada durante a época romana, e leva farinha de trigo, ovos, azeite de girassol, suco de limão, anis em grãos e licor de anis, uma bebida tradicionalmente associada à cidade. 

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Rosquillas de San Isidro.

 

Um doce típico das festas natalinas, o Turrón é muito popular na cidade. Feito com amêndoa tostada, clara de ovo e mel, seus principais centros produtores são a Comunidade Valenciana e a Catalunha. Na França é conhecido como Nougat, e na Itália como Torrone, a mesma denominação do Brasil. Sua origem se encontra na Arábia, e os árabes trouxeram a receita para a Espanha e Itália. A versão espanhola começou no antigo Reino de Valência ao redor do século XV. No século XVI, o costume de comer turrones durante o natal já estava estendido por todo o país.

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Turrones.

 

Em Madrid, tradicional são os turrones elaborados pela Casa Mira, um dos inúmeros comércios históricos da cidade, situada próximo à Puerta del Sol (Carrera de San Jerónimo, 30). Esta doceria foi fundada em 1842 (inicialmente situado num posto da Plaza Mayor) pelo valenciano Luis Mira, um confeiteiro nascido na cidade de Jijona, um dos principais núcleos de fabricação de turrón da Espanha. Seus doces alcançaram tamanho êxito em Madrid que se converteu no provedor oficial de turrones da família real. A sexta geração da família Mira continua gerenciando o local desde 1855, que continua inalterado apesar de sua antiguidade, sendo considerada a única fábrica de turrones do século XIX em atividade, exportando seus produtos a outros países. A grande popularidade dos doces da Casa Mira se deve a qualidade dos ingredientes e sua elaboração artesanal.

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Casa Mira.

 

De forma resumida, os turrones tradicionais apresentam variedades com as amêndoas à vista (denominado Turrón duro) e aqueles em que a amêndoa é moída, adquirindo um aspecto pastoso (Turrón mole ou blando, em espanhol). Recentemente, uma tradicional fábrica de turrones da cidade de Agramunt (Catalunha) abriu várias lojas em Madrid. Elabora produtos desde 1775, sendo conhecidos como Turrones Vicens. A loja situado no Paseo del Prado, em frente ao famoso Museu del Prado, possui 650 metros quadrados de superfície, uma das maiores do mundo…

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As lojas Agramunt oferecem uma grande variedade de turrones, como os feitos com gema tostada, típico da Catalunha, e os preparados com trufa, côco, café, pistache, além das recentes receitas preparadas em colaboração com o chef Albert Adrià, os turrones de cerveja e  tiramissu.

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Outras docerias históricas que valem a pena conhecer em Madrid são a “La Mallorquina“, fundada em 1894 (situada na Puerta del Sol) e  “El Riojano“, situada bem próxima (Calle Mayor, 10), inaugurada em 1855.  

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Outro doce típico de Madrid são os Caramelos Violeta, elaborados com essência da flôr, que possui a forma de uma violeta de 5 pétalas. 

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Caramelos Violeta.

 

Estas balas foram originalmente criadas numa confeitaria histórica, também localizada perto da Puerta del Sol (Plaza de Canalejas, 6), chamada “La Violeta“. Seu criador, Mariano Gil Fernández, pertencia  a uma família de confeiteiros, e decidiu elaborar um produto diferente que obteve um grande sucesso desde que a loja foi aberta em 1915. Se conta que o Rei Alfonso XIII comprava os caramelos tanto para sua esposa, a Rainha Victoria Eugenia, quanto para sua amante…

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Doceria “La Violeta”.

 

O negócio continua sendo propriedade da família, atualmente administrado pelas netas do fundador, que continuam elaborando seus famosos caramelos, cuja receita permanece sendo um segredo. Como todo comércio histórico de Madrid, recebeu como homenagem uma placa comemorativa de seu centenário, colocada no solo, em frente à entrada…

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